A escala de trabalho é um item tão comum na rotina das empresas que algumas acabam não se atentando a buscar uma boa gestão sobre isso, o que pode ser bastante prejudicial. Uma das principais atividades do Recursos Humanos (RH) e do Departamento Pessoal (DP), as escalas de trabalho têm uma influência direta sobre o bem-estar e a produtividade das equipes.
No Brasil, elas são reguladas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que oferece algumas opções de escalas de trabalho para se adaptar às necessidades de determinados setores. No artigo de hoje, você aprenderá em detalhes sobre o que são, quais os principais tipos e por que é importante ter uma boa gestão de escalas de trabalho. Boa leitura!
O que é uma escala de trabalho
A escala de trabalho define os períodos em que o funcionário está exercendo suas atividades profissionais e aqueles destinados ao descanso. Ou seja, é considerado tanto o tempo em que o profissional está exercendo sua função quanto aquele em que está aguardando alocação e os momentos dedicados a sua vida pessoal.
Para definir uma escala de trabalho é preciso considerar a saúde física e mental dos colaboradores e a quantidade de demandas da empresa, adaptando conforme as necessidades de ambas as partes. Uma boa gestão do tempo de trabalho afeta diretamente na eficiência dos profissionais, além de ser fundamental para manter a companhia alinhada à legislação trabalhista vigente. Algo importante para evitar multas e processos trabalhistas.
Em aspectos gerais, as escalas de trabalho no Brasil são, segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), limitadas a 44 horas semanais trabalhadas com direito a pelo menos um dia de descanso remunerado.
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Tipos de escalas de trabalho
É possível encontrar alguns modelos de escala de trabalho na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que servem para guiar grande parte das empresas sobre suas opções em relação ao tema. No entanto, existem ainda escalas especiais que podem ser adotadas com base em acordos individuais e coletivos. Conheça a seguir somente aqueles regulados pela CLT. Confira:
Escala 6×1
Bastante utilizado nos setores de comércio, varejo e alimentação, a escala 6×1 exige que os funcionários trabalhem por seis dias seguidos e tenham apenas um dia de descanso remunerado. Essa folga pode acontecer no domingo e, caso seja estipulado para outro dia da semana, é exigido que o trabalhador tenha pelo menos um domingo de folga em até sete semanas.
Sua vantagem é maximizar o tempo em que os funcionários permanecem na empresa. Porém, traz desvantagens como a sobrecarga física e mental para os colaboradores, falta de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e, com isso, consequências como adoecimento, aumento no turnover, absenteísmo, entre outros.
Vida Além do Trabalho (VAT)
Em 2024 se intensificou o debate sobre a escala 6×1 e a necessidade de extinguir seu uso. O combate a esse modelo se fortaleceu a partir do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), se tornando até mesmo uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que corre no Congresso.
A ideia é diminuir a escala de trabalho dos brasileiros para 4×3 ou 5×2. O movimento VAT foi fundado por Rick Azevedo, vereador do Rio de Janeiro, e hoje tramita no Congresso com o endosso da deputada Erika Hilton (PSOL-SP). A ideia é criar um ambiente de trabalho mais saudável e acolhedor para todos os trabalhadores, adaptando os dias de trabalho conforme as necessidades da empresa, mas mantendo como dois ou três dias de descanso obrigatório (que podem ou não acontecer aos fins de semana).
Atualmente existe uma busca por parte da população pelo fim da escala 6×1, mas ela ainda é permitida pela CLT e está presente em diversas organizações, especialmente de setores que precisam permanecer abertos ininterruptamente.
Escala 5×1
Utilizada com menos frequência, mas ainda comum e regulamentada pela CLT, temos a escala 5×1 que pede ao trabalhador que exerça suas funções por cinco dias seguidos e tenha um dia de descanso. Nesses casos as folgas acabam acontecendo em dias diferentes da semana, sendo que, pelo menos uma vez ao mês, é essencial que ela aconteça no domingo.
Escala 5×2
Conhecida como escala comercial, ela é bastante utilizada especialmente nas organizações que atuam de segunda a sexta-feira. Nela é estabelecido cinco dias de trabalho e dois dias de descanso que, em muitas organizações, acontecem aos fins de semana (sábado e domingo). Para manter a carga horária de 44 horas semanais, as empresas podem estabelecer uma rotina diária de até 8 horas e 48 minutos.
Escala 12×36
Aqui os números correspondem às horas, sendo que o profissional trabalha por 12 horas consecutivas e descansa pelas 36 seguintes. Foi formalizado devido à demanda em setores como os de saúde, indústria e segurança, onde é necessário que os profissionais permaneçam por longos períodos.
Antes, essa era considerada uma escala especial, mas, com as alterações feitas pela Reforma Trabalhista realizada em 2017, passou a ser permitida para diferentes setores e funções.
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Escalas especiais de trabalho
Algumas organizações possuem necessidades especiais, onde as escalas de trabalho permitidas pela CLT acabam não se encaixando. Nesses momentos a Constituição permite o uso de escaladas especiais, desde que sejam aprovadas em convenções coletivas ou acordos individuais, a depender do caso. As principais delas são:
Escala 18×36
Nesta escala de trabalho, os profissionais trabalham por 18 horas e descansam nas 36 seguintes. Costuma ser utilizada em funções ligadas a operações industriais ou áreas de logística, onde é preciso que os profissionais tenham jornadas mais longas. Auxilia na redução de troca de turnos, mas exige um bom planejamento e cuidado para não gerar problemas legais e de saúde.
Para utilizar a escala 18×36 é necessário realizar um acordo formal, que deve estar registrado no contrato de trabalho. O RH e o DP também devem seguir as convenções trabalhistas estipuladas pelo sindicato da função.
Escala 24×48
Assim como na escala de trabalho anterior, essa exige um acordo formal e muito cuidado para não gerar ou potencializar problemas para a saúde e desempenho dos profissionais. Nesta o profissional trabalha por 24 horas consecutivas e descansa por 48, uma escala mais comum em setores como os de segurança e emergência.
Aparece com mais frequência na área de saúde, mas exige cuidado, pois, ainda que não recomendado, muitos profissionais acabam assumindo plantões em outros locais em suas 48 horas de descanso devido a questões financeiras. Isso pode levar a exaustão, redução de desempenho e adoecimento.
Escalas intermitentes
Modelo mais flexível, nessa escala de trabalho a empresa tem liberdade para chamar o trabalhador apenas em dias e horários onde precisa dos seus serviços. O pagamento é feito proporcionalmente às horas trabalhadas, sendo uma boa solução para momentos de alta demanda.
Escalas de sobreaviso
Nesta escala de trabalho o profissional pode ser acionado em momentos fora do expediente, algo comum em setores como o de telecomunicações e energia elétrica. Acaba sendo utilizada para funções como técnicos de manutenção e segurança.
Escala 4×3: uma nova tendência para o futuro?
Diversos estudos e experimentos estão sendo feitos no Brasil e no mundo testando a escala 4×3, que propõe quatro dias de trabalho seguido de três dias de descanso. A semana de 4 dias (4 day week), como também é chamada, apresenta diversas vantagens como aumento na produtividade, motivação e engajamento e redução no adoecimento, turnover e absenteísmo.
No Brasil a Reconnect organizou um experimento de seis meses, onde alguns dos resultados obtidos foram:
— 87% notou que a semana de 4 dias gerou mais energia e ânimo para realizar as tarefas;
— 73% apontou que os índices de exaustão causada pelo trabalho diminuíram drasticamente;
— 71% dos participantes relataram ter mais energia durante o tempo passado com amigos e familiares.
A escala 4×3 se tornou um sucesso também em outros locais do mundo, como a Islândia, onde o modelo é utilizado por diversas empresas desde 2020. Suas vantagens foram tão amplas que em 2023 houve um crescimento econômico de 5% no país e, segundo pesquisas, um dos motivos é a semana de 4 dias.
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Importância de uma boa gestão de escalas de trabalho
A gestão de escalas de trabalho tem impacto direto sobre a eficiência operacional e a produtividade dos trabalhadores, assim como no seu bem-estar. Por isso, é fundamental que o RH tenha consciência sobre a sua importância e faça um planejamento adequado para potencializar as vantagens de cada modelo, evitando suas desvantagens.
Jornadas de trabalho exaustivas levam ao desgaste físico e emocional, que causam perda na produtividade, aumento de erros, possibilidade de acidentes e afastamentos. Além disso, o não cumprimento das orientações dispostas na CLT sobre jornadas de trabalho pode gerar processos e multas contra a organização.

Regras sobre o intervalo de jornada
Outro item essencial para a gestão das escalas de trabalho é o intervalo obrigatório para descanso dos trabalhadores. O período mínimo e máximo muda conforme a duração da jornada. Por exemplo, escalas de 4 a 6 horas exigem um intervalo mínimo de 15 minutos.
Já aquelas com mais de 6 horas devem ficar entre uma e duas horas. A CLT também estipula regras para outros tipos de intervalo, como a obrigatoriedade de pelo menos 24 horas de descanso remunerado durante a semana e em feriados (salvo exceções feitas em acordos coletivos).
O espaço entre jornadas não pode ser menor do que 11 horas consecutivas, em jornadas de revezamento de 8 é necessário ter 24 horas de repouso a cada três turnos e em revezamento de 12 horas são 24 a cada turno. Existem ainda outras regras, algumas que podem ser flexibilizadas conforme acordos sindicais, e é preciso que o RH fique atento a cada uma delas para evitar riscos judiciais.
Como fazer uma escala de trabalho eficiente
Uma gestão de escalas de trabalho estratégica e eficiente consegue equilibrar as necessidades da companhia e dos profissionais. Como apresentamos ao longo deste artigo, ela é fundamental para uma rotina mais produtiva e saudável, além de tornar o ambiente mais motivador. Para escolher uma boa escala de trabalho para a empresa, é importante:
— Identificar e mapear as demandas da organização, listando horários e momentos onde é mais importante ter os colaboradores presentes.
— Estar sempre atento às regulamentações trabalhistas, conferindo novas atualizações e respeitando intervalos obrigatórios, limites de cada escala e obrigatoriedade de descanso semanal remunerado.
— Optar pela escala de trabalho mais adequada a cada função e setor. Para isso é preciso considerar as características das atividades e a rotina das equipes.
— Mantenha seus colaboradores informados, de preferência tendo um planejamento mensal que fique à disposição para que o profissional possa consultar. Isso lhe dá maior previsibilidade do seu mês, melhorando a relação com a empresa.
— Faça reavaliações e ajustes sempre que necessário! Prioridades podem mudar, assim como é possível identificar momentos em que o colaborador possa estar sobrecarregado ou com conflitos. É fundamental que o RH consiga identificar problemas como esses e esteja aberto a adaptar para respeitar os limites físicos e legais.
— Estabeleça um plano B a ser acionado durante imprevistos, como aumento drástico de demandas ou faltas e afastamentos de funcionários.
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Até o próximo artigo! 💙